quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Anuncio de venda de barraco na invasão dandara

Conforme denuncia feira pela reportagem de O Tempo (post anterior), também na invasão dandara localizada entre os bairros Trevo e Céu Azul, é possível encontrar anúncios de venda de barracos nos sites olx e bomnegocio. Desde o inicio da invasão é comum depara com alguém vendendo seu barraco, mas essa agora de anunciar publicamente em sites de anúncios é novidade. Coo pode uma pessoa vender algo que não lhe pertence? 

Tal qual em outras invasões em Belo Horizonte e Contagem, etc., energia e água são de "graça" através de ligações clandestinas feitas pelos invasores. Observa-se sempre nestes locais, que o desperdício chega as beiras do absurdo, pois nota-se luzes acesas 24 horas por dia, instalação de comércios tais como serralherias e marmorarias etc etc, e o de água nem se fala pois escorre a céu aberto.







Barraco em ocupação é vendido com água e luz de graça na web


Imóvel de 40 m² custa R$ 1.500; vendedor assume que não mora no local e ‘vai lá de vez em quando’

Oferta. No site onde o barracão é oferecido, constam fotos e “as vantagens”, além de um telefone de contato

Vista geral da ocupação Willian Rosa, na avenida Severino Ballesteros




Por R$ 1.500 é possível comprar um barracão de 40 m² na ocupação Willian Rosa, montada na avenida Severino Ballesteros, em Contagem, na região metropolitana da capital, no terreno que pertence às Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas). E para fazer a compra nem é preciso sair de casa. Um anúncio publicado no site OLX, de comércio online, oferece o imóvel e ainda destaca os “benefícios”, como a possibilidade de receber posteriormente um apartamento do programa Minha Casa, Minha Vida e não pagar por água e luz, já que há ligações irregulares que garantem os serviços.
O dono do anúncio tem casa própria em outro local, diz que não dorme na ocupação e revela que para concretizar a negociação é preciso enganar até os líderes da ocupação. A reportagem de O TEMPO ligou para o responsável pelo anúncio e se passou por um interessado na compra do barracão. O dono do imóvel se identificou apenas como Marcos e disse que o negócio poderia trazer vantagens, mas que sempre havia risco. “Não vou te falar que não tem risco de a Polícia Militar tirar você do barracão no futuro. Mas é o risco que se corre para ter um imóvel por esse preço. É um investimento, porque o metro quadrado ali vale R$ 5.000”, conta. Mesmo apresentando um valor superestimado, ele afirma que pode vender o barracão até mais barato do que no anúncio de R$ 1.500.

Ele ainda explica que toda negociação teria que ser feita sem o conhecimento dos líderes da ocupação, que não permitem a venda dos terrenos. “Isso a gente tem que combinar. Se falar que eu estou te vendendo, eles não liberam. A gente tem que ir lá, eu falo com eles que cansei de esperar uma solução e que estou passando a minha vaga para você. Aí a gente tem que falar que você me pagou só R$ 300 das benfeitorias no terreno. O povo não pode ficar sabendo que tá tendo venda de imóvel lá”, diz.

Sem nenhum constrangimento, Marcos admite que não mora no barracão, mas alerta que se efetuasse a compra teria que dormir lá para garantir o lugar. “Eu já não durmo lá todo dia. Vou de vez em quando. Mas no início é bom que você durma lá sempre. É bom também sempre ajudar o povo que mora lá com doação de cesta básica, ajudar nas manifestações, para conseguir confiança”, explica.

De graça. Outro “atrativo” do imóvel seria o acesso à água e à energia elétrica sem precisar pagar conta. “Aqui, luz é garantida. Se a Cemig cortar a energia, nós fechamos a avenida até arrumar. Teve uma vez que queimou um transformador, e a Cemig não quis consertar. Nós fechamos a avenida e só liberamos depois de resolver o problema”.

A Cemig informou que em caso de ligações irregulares pode fazer o desligamento. A empresa ressalta que aqueles que fazem ligações clandestinas, além de estarem sujeitos a acidentes, também podem sofrer consequências judiciais.

Vanessa Portugal, uma das apoiadoras do movimento, afirma que essa é uma situação isolada e que não pode prejudicar a luta por moradia. “A gente orienta a todos que a venda é proibida e que não há posse do terreno”, afirmou.

Raio X

Início. A ocupação Willian Rosa começou no dia 12 de outubro de 2013, com 400 famílias invadindo um terreno da Ceasaminas durante a madrugada. Ela fica às margens da avenida Severino Ballesteros, em Contagem.

Crescimento. Poucos meses após a invasão, o número de famílias chegou a 3.800. Todas estão em barracos de madeira, já que até o momento nenhuma casa de alvenaria foi erguida. Em junho deste ano, os moradores tentaram ocupar outra parte do terreno, às margens da BR–040, mas desistiram, após não conseguirem fazer as ligações de energia. Segundo os coordenadores do movimento, a maioria das famílias está cadastrada no Minha
Casa, Minha Vida.

Saiba mais
Parada. Mesmo com a ordem de reintegração de posse já determinada pela Justiça, não há previsão para o cumprimento da medida. A CeasaMinas negocia a retirada pacífica.